Macho alfa… Fêmea gama?

Falar de machismo não é algo fácil, por várias razões. Qualquer opinião pode suscitar várias interpretações e até julgamento das reais motivações de quem opina sobre o assunto, mas vale a pena correr o risco. Vamos lá? Pra começo de conversa, o assunto está na agenda do dia. Associações com violência doméstica, governos totalitários, religiões misóginas e, pasmem, nem a Bíblia escapa! O comportamento de um indivíduo, expresso em suas opiniões e atitudes, que abrangem desde uma anedota pretensamente inofensiva, até uma postura explicitamente preconceituosa, pode revelar um caráter sexista disfarçado. O enaltecimento do gênero masculino sobre o feminino, como se o fato de ser homem significasse ser superior em tudo, não só reforça um sentimento opressor do macho, como, em nome da submissão, amordaça o sofrimento latente da mulher (quando não é a própria mulher que legitima as atitudes do homem).

Não se trata de discutir o papel de liderança do homem e do caráter ajudador da mulher, a visão sacerdotal, a figura paterna como provedora e protetora, a submissão em amor da mulher no casamento, enfim, as premissas que vigoram desde que o mundo é mundo, as quais encontraram-se acolhidas no cristianismo, fortemente consolidadas na visão paulina. A questão aqui é a ideologia, a tentativa de supressão do papel relevante da mulher na sociedade moderna, que ecoa até dentro de nossas igrejas, em parte motivada pela cultura arraigada, em parte pela ignorância sobre a boa exegese bíblica.

Não é raro ouvir argumentos equivocados baseados em textos que servem de pretexto para atitudes reprováveis por parte de líderes, estejam eles nos lares, nos púlpitos ou nos grupos. Via de regra, na Igreja, a mulher entende e aceita seu papel e sua submissão à liderança do marido, mas tem preservado seu direito de livre expressão, de projeção no corpo eclesiástico e de não viver apenas para servir e assistir às vontades do marido, do pai ou do líder espiritual.

No cristianismo não se discute a questão dos estereótipos masculino e feminino, uma vez que a amostragem social que a igreja representa, reproduz um modelo social convencional. O conflito ganha atenuantes quando impera o amor, a tolerância, o acolhimento, a vida em comunidade terapêutica e ajudadora, onde uns estão dispostos a carregar a carga uns dos outros, a suportar as fraquezas de quem quer que seja, independente de gênero. O excesso de macheza e virilidade é que magoa, fere, oprime e entristece. O número crescente de divórcios na comunidade cristã, em grande parte, está ligado, na sua origem, a um comportamento abusivo ou numa justificativa de que o macho “é assim mesmo”, como se este argumento justificasse uma atitude instintiva e, por isto, teoricamente tolerável.

A sociedade mudou. Dividir tarefas domésticas, apoiar ou incentivar as iniciativas profissionais da companheira, compreender (e respeitar) as peculiaridades do universo feminino, são simples expressões de como um homem pode assegurar seu papel social (e espiritual) sem perder sua identidade. Piadas sobre a inteligência da mulher, suas habilidades ao volante, seus descompassos na dieta, seu estilo de vestir, sobre a sogra (alguém já ouviu piadas sobre sogros?), seu gosto por determinados esportes, são inteira e totalmente descabidas e podem de fato revelar um caráter machista e preconceituoso, incompatível com a fé cristã.

Aprendamos com Jesus, na forma com que Ele tratou todas as mulheres que cruzaram o seu caminho. Igreja é noiva e é corpo de Cristo, do qual muitos homens são valorosos membros. Precisa dizer mais alguma coisa?

Pr. Anibal Filho

Doutor em Produção Vegetal pela UFG e Pastor auxiliar da Igreja Batista Renascer.

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