Suicídio: é preciso falar

Durante o mês de setembro, em todo país, está sendo realizada a campanha Setembro Amarelo, que visa chamar a atenção da população para o tema do suicídio e como preveni-lo. No Brasil, a campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Entre as estratégias para alertar o público em geral, costuma-se mudar a iluminação de monumentos para a cor amarela, como o Congresso Nacional, a ponte Juscelino Kubitschek em Brasília e o Cristo Redentor na cidade do Rio de Janeiro.

Suicídio: o próprio nome soa desagradável, como algo negativo e constrangedor, o que nos leva a uma atitude de silêncio sobre o assunto. Mas, isso não afasta a realidade alarmente de que nos últimos 15 anos o número de suicídios aumentou 34% em nosso país. Nesse contexto, apesar de ser um índice baixo em relação a média mundial, ao contrário de outros países em que a média vem baixando, as taxas de suicídio no Brasil têm aumentado, principalmente nas populações mais jovens, incluindo aqui adolescente e até crianças.

Mas, o que fazer então? A única arma que temos para mudar essa realidade é primeiro quebrarmos o silêncio e o tabu, e começarmos a discutir o assunto, procurando entender as causas que levam uma pessoa ao suicídio, nos tornando capazes de ajudar quem passa por essa situação.

Falar sobre o suicídio torna-se então um fator preventivo. Ele deveria ser encarado como qualquer outra doença, cujas campanhas preventivas são divulgadas amplamente, produzindo uma diminuição de sua incidência. O Japão, por exemplo, que historicamente sempre teve índices altos de suicídios, começou a mudar a sua realidade a partir do momento em que deu início a discussão sobre o assunto publicamente, levando o governo e implementar medidas de saúde pública, que avaliam constantemente os fatores de risco.

A nível mundial, a própria Organização Mundial da Saúde – OMS, se comprometeu a desenvolver, neste sentido, ações para reduzir os índices no próximos anos. No Brasil, entretanto, apesar de algumas instituições privadas e públicas se dedicarem a pesquisa e prevenção, elas ainda encontram-se em um estágio inicial e de ações não coordenadas. Por esse motivo, é necessário que o própria população se manifeste e peça atenção sobre o assunto, assim como estamos fazendo agora falando sobre isso.

De forma prática, a pergunta que fazemos é: o que fazer em relação ao nosso próximo, no sentido de percebermos e ajudarmos alguém neste contexto de eminente tentativa de suicídio? O primeiro passo é reconhecer os sinais de perigo:

– Comece a prestar mais atenção quando um amigo ou conhecido seu aumentar sua fala sobre temas como: solidão, isolamento, culpa, autodepreciação, sentimento de agressão e vingança. Com o advento das redes sociais, é possível perceber o aumento de postagens sobre estes assuntos.

– Observe quando a pessoa começa, com frequência, a enaltecer e achar a morte importante para ela.

– Perceba também quando a pessoa começa a perguntar muito sobre uso de armas ou substâncias que tenham potencial de causar morte.

– Perceba também o surgimento de comportamentos impulsivos e de riscos na pessoa. Por exemplo: mudança muito rápida de peso, ingestão aumentada de álcool e fumo e ou substâncias ilícitas.

– Observe com mais atenção quando seu amigo ou conhecido apresentar o comportamento de se desfazer de objetos de importância para ele, dizer adeus de forma mais contundente.

O segundo passo é ajudar procurando ser um suporte para esta pessoa:

– Demonstre que você se interessa por ela e que ela não está só. Verbalize isso sem julgar.

– Quando possível, respeitando os limites, faça contato físico (um aperto de mão, um abraço).

– Não faça comparações do sofrimento da pessoa com o de outra. Sentimento é algo particular.

– Não tenha temor de perguntar se a pessoa pensa em se matar. Mesmo que ela diga que sim, continue a conversar com ela, pois a oportunidade da pessoa compartilhar um pensamento suicida, alivia o sentimento de solidão pelo qual está passando. No final, sugira a pessoa um auxílio profissional, e a acompanhe se possível.

– Em caso de emergência, se, por exemplo, receber uma mensagem diferente numa rede social, por telefone, ou se pessoalmente e pessoa ameaça se matar, nunca deixe de levar a sério, chame ajuda ou leve a pessoa a um serviço de emergência hospitalar.

– Depois de uma ameaça e ou tentativa de suicídio, procure manter contato com a pessoa, pois é importante que ela perceba que você continua se importando com ela.

– E ainda, como cristão, ore com esta pessoa e peça ao Espírito Santo de Deus a favor dela. Compartilhe a sua fé.

Discutindo o assunto e aprendendo como lidar com a situação, estaremos contribuindo para a saúde de nosso próximo. Como igreja de Cristo, somos chamados a servir, ajudando os enfermos e doentes. Em Eclesiastes 4: 10 lemos que: “Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!”.

Lembremo-nos disso, e que Deus continue a nos abençoar.

Dr. Leonardo Gonçalves Hayne

Psicólogo clínico, especializado em Gestão estratégica de Pessoas e Neuropsicopedagogia, professor de graduação e pós-graduação nas áreas de psicologia e neurociência.

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Sandro Rodrigues
Sandro Rodrigues
1 ano atrás

Ótima abordagem sobre o assunto, de maneira sutil e objetivo.

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