Traumas: quem não tem?

Os consultórios de psicólogos e médicos, gabinetes de pastores e grupos de autoajuda estão cada vez mais frequentados por pessoas que tentam fazer mudanças em seu comportamento e não conseguem. Essas pessoas convivem diariamente com perguntas, como: “porque não consigo parar de fazer isso?”, “porque permito que façam isso comigo?”, “porque não consigo dizer não?”, “porque não acredito em mim e estou sempre fracassando?”, “porque sempre escolho a pessoa errada?”, “porque me sinto tão carente de amor?”, entre outros questionamentos.

Essas e outras perguntas, às vezes, podem ser respondidas por uma única frase: você tem um trauma! Grande parte dos comportamentos inadequados que não tem causa orgânica, estão ligados à traumas.

A maioria das pessoas tem ideia do que seja um trauma, mas não tem noção de quão sutil ele pode ser, e como isso pode afetar a saúde mental de uma pessoa. Um trauma é uma marca psicologicamente relevante e obviamente negativa, mas o trauma não se instala unicamente pelo evento desagradável que ocorreu. É preciso que esse evento seja vivido de maneira significativamente negativa para que se torne um trauma.

Em outras palavras: não é o que nos acontece que gera o trauma, mas como vivemos isso. Desse modo, algo que a maioria das pessoas julga ser traumatizante, pode não ser para a pessoa que viveu, porque o impacto psicológico não foi significativo, ao passo que algo banal para outras pessoas, pode ser traumático para quem viveu. O que importa mesmo é o significado dos acontecimentos para quem o está vivendo.

Como o trauma influencia o comportamento?

Quando um trauma acontece, ele gera um padrão de comportamento, que geralmente é repetido ao longo da vida em situações semelhantes àquela que gerou o trauma. O indivíduo vive uma situação extremamente impactante e desagradável, e reage. Essa reação pode ser um pensamento, um sentimento, uma emoção, uma sensação física ou um comportamento. Isso passa a ser a ferramenta que ele vai usar para todas as outras situações parecidas.

O problema acontece quando aquele modelo de reação está provocando sofrimento a ele e a outras pessoas, ou ainda quando a atitude antiga não funciona para as situações novas, mas o indivíduo não consegue fazer diferente. A pessoa não encontra reações novas para os problemas que surgem, e passa a vida em constante “looping” de sofrimento e descontrole.

As principais características do trauma são:

  • Pensamentos negativos

O trauma pode fomentar no indivíduo ideias negativas a respeito de si mesmo, que generalizam e impedem a pessoa de agir de maneira mais adaptativa. Nesse caso, a reação é pensar coisas ruins sobre si, o que leva a ações ruins. Ideias de incapacidade (“não posso”, “não consigo”, “não sou capaz”, “sou fraco”), desvalorização (“sou insignificante”, “ninguém me ama”, “não tenho valor”), desmerecimento (“não mereço”, “isso é muito pra mim”), culpa (“sou culpado”, “foi minha culpa”) e obrigação (“tenho que fazer alguma coisa”, “não posso desistir”) são comuns em casos de trauma. Essas ideias negativas impedem a pessoa de ir em busca de seus objetivos, e às vezes, até levam ao suicídio.

  • Emoções e sensações físicas

Existem emoções e sensações físicas motivadas por trauma. Uma pessoa pode ficar ansiosa, deprimida, irritada, angustiada, com medo ou triste, e não conseguir encontrar uma motivação direta e recente pra isso. Eventos vividos recentemente faz com que sensações e emoções antigas sejam ressentidas. Emoções antigas ligadas aos traumas são reeditadas a cada situação parecida, provocando constantes sensações desagradáveis e muitas vezes incapacitantes.

  • Comportamentos destrutivos

Podem ocorrer também comportamentos desagradáveis, e até vexatórios, colocando a pessoa em situações constrangedoras publicamente. Chorar quando seria preciso se conter, se desesperar quando o problema não é tão grande assim, ser agressivo em momentos que seria necessário ser pacífico, ficar paralisado quando seria necessária uma ação rápida, dentre outros.

Conviver com pensamentos, emoções, sensações e comportamentos que a própria pessoa produz, com a constante ideia de que não tem controle sobre isso: isso é o que vive quem está à mercê de um trauma importante.

traumas

O que fazer?

Algumas pessoas já tem conhecimento do trauma que carregam e de alguns danos que ele traz consigo, mas não conseguem mudar a situação e se sentem escravas das fatalidades. Outras pessoas precisam desvendar a causa de tantos comportamentos destrutivos que apresentam. Nos dois casos é preciso procurar um psicólogo e fazer um tratamento psicoterapêutico.

Existe ainda aquelas pessoas que tentam amenizar os danos dos traumas com medicamentos, e isso é um erro! É como usar morfina para diminuir a dor de um câncer, ao mesmo tempo que deixa as células malignas proliferarem até a morte. Trauma é um terreno movediço e é preciso cuidado para não provocar mais danos ao lidar com essas feridas.

A psicoterapia tratará a pessoa, livrando-o da escravidão de agir sempre igual, e ajudará a desenvolver novas formas de lidar com as situações aversivas da vida.

“Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores”. (Salmos 34:4)

Elizabeth Cunha e Silva

Psicóloga especialista em Psicopatologia e Saúde Mental - CRP:09/003588

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