Diversidade e liberdade religiosa

Como o cristão deve lidar com a “diversidade” e qual o papel da Igreja perante a atual conjuntura social? Esses são alguns dos questionamentos que procuraremos responder ao longo desse breve editorial.

Como é de conhecimento de todos, nos últimos anos tem se intensificado o relativismo e progressismo na sociedade. Cada vez mais, tem sido disseminado que ser diferente é “cool”, que a tendência é quebrar tabus, se rebelar, dentre outras coisas do gênero. Nas escolas, ensinamentos do tipo são cada vez mais comuns e, inclusive, tais pensamentos tem tido certa força na Igreja, sendo abraçado por alguns líderes.

Assim, tendo em vista o cenário posto, gostaria de orientar aos leitores sobre esse assunto tão importante. Esse é o desafio.

Sempre que penso sobre esse assunto me lembro de uma experiência muito interessante que passei no trabalho há alguns anos atrás. À época, fazia estágio em um órgão público e, certa vez, eu e os outros estagiários fomos comunicados que receberíamos um servidor novo que viria de outro órgão.

O servidor em questão era um homossexual de aproximadamente cinquenta anos, com experiência de alguns anos morando em Paris. Era de temperamento difícil, tinha problemas com figuras de autoridade, era ativista LGBT e fazia questão de deixar claro que não gostava de “crentes” como ele mesmo dizia. Pouco tempo depois de chegar ao departamento e, percebendo que eu era cristão, ele começou a, abertamente, questionar minha fé, criticar meu comportamento e criar situações para que eu reagisse de forma a ter algo sobre o qual me acusar. Na verdade se tratava de uma autodefesa dele, pois não acreditava em mim. Sua visão de família, fé, amor e divindade era totalmente diferente da minha. A sua tentativa era a de “tirar minha máscara”, demonstrar que meu comportamento era falso e que na verdade eu não passava de um homofóbico, falso moralista, retrógrado e conservador.

Entretanto, com o tempo, ele percebeu que, de fato, eu tinha respeito pela sua pessoa e não me sentia incomodado com sua presença e seu jeito de andar, falar e vestir. Igualmente, percebeu que eu não tinha dificuldade ou constrangimento em defender a fé ante as suas provocações.

Alguns meses depois ele foi colocado à disposição em função de problemas de relacionamento com a gerente do departamento e, posteriormente, foi transferido para outro órgão estatal. Mas, o resultado foi que, em seu último dia, me chamou para conversar em particular e me agradeceu. Disse que me tinha em estima e fazia votos para que um dia eu conquistasse meus objetivos, pois “um dia eu seria um promotor de justiça”. Inclusive, me trouxe de sua casa um edital do concurso e afirmou que se eu precisasse de livros e conselhos, poderia procurá-lo.

Você leitor, consegue entender o ponto em análise? Existem dois grandes equívocos que muitas vezes cometemos ao lidarmos com esse assunto: acharmo-nos superiores e tratarmos as pessoas com indiferença e preconceito, afastando-as da fé; ou ficarmos constrangidos e sermos omissos quanto ao nosso posicionamento com relação a esses assuntos sensíveis, como o conceito de família e a diversidade.

No primeiro caso, agimos como o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano (Lucas 10:32) que atravessaram a rua ao encontrar um homem nu e que havia sido espancado por assaltantes na estrada para Jerusalém. No segundo caso, nos perdemos, relativizamos a Palavra de Deus e amoldamo-nos ao padrão oferecido pelo mundo (Romanos 12:2), tudo isso para não termos que responder a questionamentos e ficarmos isentos de qualquer acusação ou problema.

No caso, a palavra-chave para nós é equilíbrio. Não podemos nos abster de defender a família tradicional, formada por homem, mulher e filhos, conforme preconiza inclusive nossa Constituição Republicana (Art. 226).

Devemos ensinar nossos filhos a respeitar as pessoas e tratar a todos com dignidade, mas instruindo-os a defender sua fé e os valores cristãos. Não podemos negociar a verdade exposta nas Sagradas Escrituras sob o subterfúgio de “vivermos em paz” com os outros.

Sigamos o ensinamento de Lutero, que afirmou: “a paz se possível, mas a verdade a qualquer preço”. Porém, tudo isso, sem nos esquecermos de que a Bíblia Sagrada nos ensina que a verdade deve ser seguida em amor (Efésios 4:15) e que nenhuma palavra torpe deve sair de nossa boca, mas sim, aquela que for boa para edificação, conforme a necessidade a fim de transmitir graça aos que a ouvem (Efésios 4:29).

Que com o tempo e a Graça de Cristo Jesus, aprendamos a lidar com a diversidade, mas sem deixar de lutar pela verdade, que é a Palavra de Deus.

Rodrigo de Jesus Sousa

Presbítero na Igreja Batista Renascer, advogado e assessor junto à Câmara de Legislação e Normas do Conselho Estadual de Educação de Goiás – CEE/GO. Twitter: RoderichJS / Instagram: @rodrigo_esther15

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