Que conversa é essa, menino?

A comunhão em família pode se dar em ambientes muito distintos, peculiares e até inusitados, mas quando o bom senso não prevalece, os conflitos podem estragar tudo que poderia ser uma excelente oportunidade de congraçamento. Naquela viagem mais longa em família, por exemplo, decidir que playlist irá dominar o som, o volume que a música vai tocar ou até mesmo os lugares onde cada um vai se acomodar, podem ser motivos para alguns aborrecimentos até o fim da viagem.

Quando nossos filhos são pequenos, até aquele momento em que a energia elétrica se vai e todo mundo se amontoa e se acotovela no sofá da sala termina por ser um momento especial para histórias e deliciosos cochilos. Com o advento dos smartphones com comunicação instantânea e o mundo à palma da mão, onde cada um entra numa bolha tecnológica, ainda que estejam todos na sala ou numa mesa do restaurante, estes momentos de pura interação familiar ficam cada vez mais ameaçados.

As gerações anteriores sabiam bem o valor de, por exemplo, rodas de conversas na porta da rua, parcerias da vizinhança para preparar a pamonhada coletiva e dos animados piqueniques no parque, momentos estes que a histeria e a violência do mundo moderno parecem também querer condenar ao desaparecimento. E por falar em conversas, é aqui que a comunhão parece degringolar de vez. Quando, à mesa da refeição, um assunto inoportuno vinha à tona, logo a autoridade da casa franzia a testa e recriminava: que conversa mais besta é essa? A reprimenda logo surtia efeito. Hoje, além do repertório de frivolidades ter tido um upgrade considerável na mídia, o desrespeito, o preconceito e a superficialidade incensam um ambiente que poderia ser agradável, produtivo e edificante.

Afinal de contas, quantos estão interessados em saber quem deixou o reality show no último confronto? A quem interessa aquele vídeo tosco, aquela música indecente, a opinião daquele blogueiro ou influencer que se acha no direito de opinar sobre tudo sem o mínimo conhecimento de causa? De repente, aquele momento que poderia render boas risadas e aumentar o patrimônio de boas lembranças para o futuro, torna-se um momento desagradável e estéril, quando, na maioria das vezes não termina com alguém gritando, se irritando ou se levantando da mesa e batendo a porta do quarto. Pronto! A vaca já foi pro brejo.

Eu penso que temos que atentar para o que a Bíblia diz sobre as más conversações corromperem os bons costumes. Claro, a gente conversa sobre aquilo do que nossos olhos e ouvidos se alimentam. Quem sabe se filtrarmos melhor aquilo que vemos ou ouvimos, se deixarmos de gastar tanto do nosso precioso tempo com a vida dos outros nas redes sociais ou fora delas, possamos nos ocupar de conversas interessantes e nos edificar mutuamente em família. Se não formos receptadores e consumidores de fofoca ou lixo transvestido de cultura, heresias fantasiadas de revelação divina e sensacionalismo que se multiplica em fake news, talvez estaremos remindo o nosso tempo, porque os dias são realmente maus.

Seja onde for, à mesa, no sofá, no parque… o que realmente vale a pena é fazer com que o produto de nossas conversas traga crescimento, alegria, expressões de amor e comunhão plena e não nos separe, ao invés de nos unir. Tim, Tim!

Pr. Anibal Filho

Doutor em Produção Vegetal pela UFG e Pastor auxiliar da Igreja Batista Renascer.

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